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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

COLUNA: Jogadores Históricos do futebol: Johan Cruijff

Hendrik Johannes "Johan" Cruijff (foto), nasceu em Amsterdã, 25/04/1947 é apontado como o melhor  jogador da história da Holanda de todos os tempos.
No final dos anos 1960, já demonstrava suas ideias revolucionárias. Deixou a todos no Ajax loucos não só ao impor as suas noções de táticas, como também a tomar a iniciativa de negociar seus termos salariais.As ideias ousadas de Cruijff combinaram-se com a igualmente ousada ambição de um professor de ginásticas para crianças surdas, Rinus Michels, quando eles se encontraram em 1965 no Ajax, onde Michels chegara para ser técnico. 
Michels planejava transformar o clube, uma equipe semiprofissional que fazia jogos pelo leste de Amsterdã, em um time internacional de ponta - o que ele e Cruijff conseguiriam em seis anos.
Em campo, Cruijff ditava um jogo de toques rápidos em que os jogadores não possuíam posições fixas, trocando-as constantemente, com exceção óbvia ao goleiro - que nem por isso deixava de ter a sua contribuição no "sistema", cabendo a ele a função de iniciar os ataques. 

O chamado "futebol total" surgiu em volta de Cruijff, um jogador com fome de jogo, que, como fome de bola, ia atrás no campo para marcar o adversário e tirá-la dele, com todas as condições para isso: tinha um fôlego privilegiado, era magro, sendo exímio no controle de velocidade; de fato, sua ficha em perfil dele publicado em edição especial da Placar sobre os cem melhores jogadores do século XX (dos quais ele foi eleito pela revista o terceiro, atrás só do vencedor Pelé e de Diego Maradona) era bem sincera no campo "posição", onde estava escrito "todas, menos o gol".

Não hesitava também em orientar os companheiros. Era capaz de dar "piques nos piques", acelerando jogadas já bem aceleradas, deixando os adversários para trás. Capaz de giros em pequenos espaços, chutes longos certeiros, dribles fáceis, de ser bom cabeceador e artilheiro.
Sua personalidade quente e que não aceitava ordens, um possível resquício da perda prematura do pai, faria Michels contratar dois terapeutas para atender o garoto. Dentro de campo, entretanto, a parceria seria um sucesso.
  
Ajax

Cruijff foi praticamente criado no Ajax: seu pai, Manus, dono de uma mercearia, fornecia frutas ao clube.Os vínculos continuaram por parte de mãe, que foi trabalhar como faxineira do clube após tornar-se viúva (quando o garoto Cruijff, que frequentava os vestiários já com quatro anos, possuía doze). Por ideia dela, o filho entrou nas categorias de base do Ajax; ela acreditava que assim ele poderia superar a deficiência que tinha nos pés, cuja má formação o obrigava a utilizar aparelhos ortopédicos: ironicamente, só assim ele, cuja uma das caracterísitcas futuras seria suas corridas fulminantes, conseguia caminhar. Sua sugestão provar-se-ia como divisora de águas não só do clube, mas do futebol nacional.
O garoto estreou em 1964, em derrota de 1 x 3. Com a chegada um ano depois de Michels, que aceitou o jogo ditado por Cruijff, os títulos viriam em série: o Ajax seria na primeira temporada com ambos trabalhando juntos campeão Holândes, o que se repetiria consecutivamente outras duas vezes. Outros três títulos no campeonato nacional viriam em espaço de cinco anos. Cinco Copas dos Países Baixos também seriam levantadas no período.
Na  Copa dos Campeões da UEFA, a estreia deu-se em um 5 x 1 sobre o Liverpool. O clube chegaria à final em 1969, mas perderia para Milan. Para piorar, o arquirrival Feijenoord  trouxe a mais importante taça europeia de clubes pela primeira vez para os Países Baixos, em 1970. Cruijff, Michels e o Ajax responderam logo na edição seguinte, igualando o rival e superando-o em seguida: foram três títulos consecutivos, nas edições de 1971, 1972 (ano em que ele foi pela segunda vez artilheiro do campeonato, e em que o time ganhou todos os torneios importantes que disputou) e 1973, respectivamente contra o Panathinaikos (time então treinado pelo lendário  Ferenc Puskás), Internazional e Juventus. Pelos títulos de 1971 e 1973, seria premiado com a Bola de Ouro da France Football, sendo o primeiro neerlandês a recebê-la. Os dois últimos títulos europeus foram já sem Michels, que saíra para o Barcelona, após a primeira conquista continental.
Cruijff então estava liderando sozinho um time de bairro que, dono de um estádio pequeno até para as segundas divisões da Itália ou Espanha e cujos jogadores não ganhavam mais do que um bom lojista, vinha reinventando o futebol. Após o título de 1973, entretanto, decidiu sair do clube, vítima do próprio poder que ajudara a deixar nas mãos dos jogadores: seus colegas decidiram que o novo capitão do clube seria Piet Keizer. Cruijff iria então para onde estava Michels, o homem que o compreendera: o Barcelona.

Barcelona

Chegou ao Barça na negociação mais cara do futebol até então, por cinco milhões de florins, preço tão alto que o governo espanhol não aprovou a transferência. Só conseguiu ser levado porque foi registrado oficialmente como uma peça de máquina de agricultura. Cruijff justificou o alto investimento: marcou duas vezes na estreia e reconduziu o Barça a um título espanhol que não vinha havia 14 anos.
Eleito o melhor jogador do campeonato, receberia sua terceira Bola de Ouro pelo feito. A temporada fora em estado de graça também por ele ter conseguido, paralelamente, classificar a Seleção Holandesa à Copa do Mundo de 1974 - os Países Baixos não disputavam o torneio desde a sua primeira participação, na edição de 1938.

Se a primeira temporada foi mágica, as seguintes lhe seriam estressantes, apesar da companhia de seu ex-colega de Ajax e Seleção Johan Neeskens, trazido ao clube após o mundial de 1974: só voltaria a ganhar um troféu em 1978, quando levantou a Copa do Rei, para logo depois aposentar-se - sequer iria à Copa do Mundo de 1978 -, cansado da violência dos gramados espanhóis, onde chegou a ter uma perna quebrada. Ainda assim, sua imagem continuaria poderosa no clube e na região da Catalunha: em homenagem ao santo padroeiro local, batizaria seu filho de Jordi, a versão no idioma catalão para o nome Jorge. 
Jordi Cruijff só pôde ser registrado assim pois nascera nos Países Baixos, uma vez que na Espanha a ditadura de Francisco Franco, que proibia o uso de outra língua que não a castelhana, ainda vigorava.

Volta aos Gramados

Fizera sua despedida em outubro de 1978, com a camisa do Ajax, em amistoso contra o clube que havia sido o sucessor imediato da equipe na hegemonia da Copa dos Campeões: o Bayern Munique, que conquistaria o troféu também três vezes seguidas após o último do Ajax. Os alemães venceriam por 8 x 0.  Este acabaria, entretanto, sendo um final provisório: em virtude de investimentos desastrosos em criações de porcos, que o fariam perder milhões, Cruijff se viu forçado a voltar a jogar.  Escolheu o futebol dos Estados Unidos, onde poderia viver tranquilo no anonimato. Passaria dois anos nos EUA, onde defendeu primeiramente o Los Angeles Aztecs (treinado por Michels) e depois o Washington Diplomats. Vestiria também a camisa do New York Cosmos em amistoso de exibição. Voltou a se apaixonar pelo esporte e retornou brevemente à Espanha, onde vestiu novamente um manto azul e grená, mas não o do Barcelona e sim o do pequeno Levante, de Valência. Logo retornaria aos Países Baixos e ao Ajax.  Enfrentou ceticismo não só por nunca ter sido uma unanimidade em casa (onde era acusado de "desbocado" e "dinheirista"), mas também pela idade de 34 anos e seu físico já alquebrado. A resposta veio em sua reestreia, em que passou por dois zagueiros e encobriu o goleiro do Haarlem. O público lotava os estádios para o ver, acreditando que estava perto da aposentadoria, e as câmeras de TV muitas vezes não conseguiam seguir suas jogadas fulminantes. Em suas duas temporadas no retorno ao Ajax, seria campeão neerlandês (e na segunda, também campeão da Copa nacional), convivendo com os jovens Marco van Basten e Frank Rijkaard. A primeira vez em que Van Basten entrou em campo profissionalmente foi inclusive substituindo Cruijff na partida. Considerado velho, Cruijff foi despedido do clube depois do segundo título seguido no campeonato por se recusarem a lhe pagar o que queria. Aos 36 anos, preparou sua vingança, firmando contrato com o rival Feyenoord. No time de Roterdã, jogando sua última temporada profissional, ele, convogando sua última temporada profissional, ele, convivendo agora com um jovem Ruud Gullit, ganharia pela terceira vez seguida a Eredivisie, quebrando um jejum de dez anos do novo clube - que venceria também a Copa dos Países Baixos.  Em 1991, sete anos após sua aposentadoria, um troféu que leva seu nome seria criado pela Real Associação de Futebol dos Países Baixos, sendo entregue ao vencedor da partida entre os campeões do campeonato e da Copa nacionais.

Ajax : 
Campeoanto Neerlandês: 1966, 1967, 1968, 1970, 1972, 1973, 1982 e 1983.
Copa dos Países Baixos: 1967, 1970, 1971, 1972 e 1983 (jogador), 1986 e 1987 (técnico) Copa dos Campeões da UEFA: 1971, 1972 e 1973. 
Copa Intercontinental: 1972. 
Supercopa Europeia: 1972 e 1973. 
Recopa Europeia: 1987 (treinador). 
Barcelona: 
Campeonato Espanhol: 1974 (jogador), 1991, 1992, 1993 e 1994 (treinador).
Copa do Rei: 1978 (jogador) e 1990 (treinador)
Copa dos Campeões da UEFA: 1992 (treinador)
 Recopa Europeia: 1989 (treinador).
Títulos Individuais:
 Ballon d'Or: 1971,1973,1974
 FIFA 100 

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